Apenas metade das mulheres negras com idade para trabalhar estão no mercado de trabalho. Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que, das quase 49 milhões de mulheres negras aptas a trabalhar no Brasil, 51,2% estão atuando no mercado. O estudo mostra, ainda, que mulheres ganham, em média, cerca de 60% do salário médio de mulheres de outras raças.
Se o comparativo for feito com homens brancos, o dado é ainda mais assustador: mulheres negras ganham menos da metade do valor recebido por eles. O levantamento foi feito entre os meses de janeiro e março deste ano e usou como base informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cenário de desigualdade
Esse balanço escancara um cenário de desigualdade que já era expressivo antes da pandemia de Covid-19, mas que se agravou muito com o isolamento social e as medidas de distanciamento. Em um Brasil onde já era difícil mulheres negras conseguirem uma ocupação no mercado de trabalho, a situação ficou ainda mais difícil com as empresas, comércios e serviços tendo que “enxugar” suas equipes e se adequarem à nova demanda de clientes, visto que esta foi muito reduzida com a pandemia.
Os problemas sociais
No caso de mulheres negras, especialistas apontam que elas carregam consigo dois problemas sociais: o fato de serem mulheres – já que os dados indicam que as pessoas do sexo feminino, em geral, ganham menos do que as do sexo masculino, mesmo ocupando os mesmos cargos e exercendo as mesmas funções – e o fato de serem negras, uma raça que domina a tabela de pessoas que sofrem de desigualdade social no Brasil.
Com tantas dificuldades para conseguir um emprego formal, caminhando contra um preconceito que, para muitos, é visto como “normal”, as mulheres negras têm buscado outras formas de viver no Brasil. Os trabalhos informais têm ganhado força, com mulheres que abriram seus próprios negócios e estão buscando alternativas para conseguir renda.
Comércio ambulante, serviços em geral, trabalhos em costura e venda de roupas, alimentos e perfumes são alguns dos exemplos de atividades que as mulheres negras têm adotado para conseguir renda.
Mulheres negras não tem chance no mercado
Para se ter uma ideia do tamanho da desigualdade, mulheres negras que estão no trabalho informal representam 43%, segundo o estudo. Esse percentual é maior do que a média nacional, que é de 40,1%. Apesar de o trabalho informal também ser um trabalho, elas ganham menos com essas atividades do que ganhariam com carteira assinada. No comparativo do levantamento, mulheres negras ganham, em média, R$ 1,7 mil; homens brancos ou amarelos recebem, em média, R$ 3,6 mil; e mulheres brancas têm um rendimento próximo de R$ 2,7 mil.